A água está a escassear
(Public em DIABO nº 2375 de 08-07-2022, pág 16, por António João Soares)
Quando era menino e moço
e vivia numa aldeia beirã de onde apenas saí quando acabei o liceu, ouvi vezes
sem conta a frase «quem não poupa sal, água e lenha, não poupa nada que tenha».
O calendário foi passando e a moral desta frase foi-se esbatendo. O sal, um
produto que vinha do distante mar passou a ser reduzido por conselho médico por
ser inconveniente para a saúde, aumentando a tensão arterial e o perigo de
problemas cardiovasculares. A lenha, que era muito consumida para a culinária e
o aquecimento durante o inverno que, na região, era muito agreste, foi perdendo
a procura. Mas a água continua a ser muito consumida desde a alimentação à
higiene corporal, doméstica e à estética. E presentemente estamos a verificar a
sua carência acentuada, quer nos caudais dos ribeiros e represas que davam para
as regas dos campos de cultivo, quer nas barragens, quer nos sinais de que os
terrenos não possuem a humidade suficiente para alimentar a vegetação.
É certo que aparecem
pessoas que lhe dão menos valor, mas continua a ser indispensável à vida. A
propósito de haver pessoas que a menosprezam, vi um dia na TV brasileira um
programa em que o artista Joe Soares estava a entrevistar uma esteticista
localmente muito conceituada que lhe demonstrava que a água não é essencial ao
cabelo e que muitos animais, com o corpo coberto de pêlo vivem sem tomar banho.
E quando o Joe contestou que a higiene da cabeça e do cabelo não a pode
dispensar, ela afirmou que o bom uso do pente garante a higiene, e demonstrou
na cabeça dele, puxando-lhe repetidamente o cabelo todo para um lado e depois
repetindo os mesmos movimentos no sentido contrário e ele afirmou que sentiu o
resultado. Ela disse-lhe que os animais selvagens, não usam pentes mas coçam-se
ou com as patas ou esfregando-se em superfícies ásperas.
Actualmente, Portugal
encontra-se numa situação de seca severa e extrema agrometeorológica em todo o
continente, "o que consubstancia um fenómeno climático adverso, com repercussões
negativas na atividade agrícola" e na vida das pessoas. Estas, nós, temos
que alterar os nossos hábitos, para podermos continuar a viver, mas adaptados
às circunstâncias ambientais.
"Esta situação
sofreu um agravamento na 1.ª quinzena de junho com a totalidade do território
continental em situação de seca severa ou extrema". Verifica-se a descida
do volume de água armazenada em grande parte das bacias hidrográficas. E o solo
tem menos humidade o que tem grande influência na agricultura e na produção
alimentar.
O problema afecta-nos a
todos e, por isso, cada um de nós deve assumir o dever de evitar exageros nos
gastos de água e alertar quando verificar que algo está a aumentar o consumo ou
a poluição da água potável ou da água que possa ser reutilizável para outros
fins.
A água que temos nas
nossas casas vai ter preços superiores e isso significa que devemos gastar com
muito mais parcimónia. Rever a frequência dos banhos, o seu pormenor e o tempo
que a torneira está aberta, etc. Quando se lavam as mãos deve abrir-se a
torneira apenas com a capacidade indispensável, e fechar-se quando se ensaboa,
etc. Ou colocar um pouco de água no lavatório para lavar as mãos em vez de ter
a água a correr, o que significa gastar um litro em vez de uma quantidade deles.
Quando se termina de urinar na sanita, deve acionar-se a água apenas durante o
tempo indispensável e não deixar que o autoclismo esvazie.
Há hábitos de esbanjamento que devem ser alterados, antes que este precioso líquido deixe de correr.
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